segunda-feira, março 10, 2025

Segunda-feira, Março

O trânsito de Porto Alegre voltou ao normal, passado o período de verão, a volta às aulas e o carnaval. O tempo de deslocamento aumentou entre os lugares, e voltou a ter um efeito terapêutico, ao menos para mim.

 

Explico.

 

Transitar por Porto Alegre é também uma constante provação. A cada dia, devo (devemos) exercitar a humildade, reconhecer que somos uma pequena, quase ínfima, parte do todo, de um plano maior, e que nem tudo ou, mais especificamente, virtualmente nada é pessoal, é sobre mim (nós). Entender isso torna as coisas mais leves.

 

As pessoas não estão agindo da forma que agem porque estão contra mim (contra nós). Elas fazem justamente porque estão pensando EXCLUSIVAMENTE nelas, sem se importar com a vida em sociedade, com a civilidade. Cabe a mim (a nós) entender isso, e não me (nos) estressar por isso. Por isso, o meu atual mantra no trânsito é “Não é sobre mim”.

 

Dessa forma, não fico ansioso ou com raiva.

 

Mesmo que quem esteja circulando por aí seja um tremendo FILHO DA PUTA, egoísta e barbeiro. Me cuido, sou gentil, não dou bola, como eu disse.

 

Não é sobre mim.

 

Até.

domingo, março 09, 2025

A Sopa

Chove desde a madrugada em Porto Alegre.

 

A temperatura caiu, e está agradável deixar a janela aberta para que o calor de dentro da casa diminua. Depois de tantos dias de sol e calor intenso, o cinza do céu e as calçadas molhadas são como uma benção.

 

Passado os meses de verão, janeiro e fevereiro, e o carnaval, que esse ano invadiu março, aqui no Sul do mundo tudo volta à velocidade habitual, e projetos e planos devem destravar a partir de agora. “Descansamos” no verão para isso.

 

Por aqui, no meu canto do mundo, olho para a rua, vejo a chuva cair e, enquanto escrevo essa Sopa de domingo à tarde, planejo a semana que virá, já cheia de compromissos, e – ainda sob efeito da passagem dos trinta anos que estamos juntos, a Jacque e eu – penso no que passei, no que passamos. Penso nos amigos que ficaram pelo caminho, naqueles que sempre estiveram e estarão por perto, e em como são importantes para mim, para eu entender quem sou.

 

Penso nas viagens que fizemos, e nas que ainda vamos fazer. Penso nos churrascos prometidos, naqueles que (ainda) não conseguimos organizar. Não deve ser complicado, e nem difícil.

 

Tenho que fazer umas ligações.

 

Até.

sábado, março 08, 2025

Sábado (e lá se vão 30 anos)

Oito de março de 1995
 

Trinta anos e muitas histórias depois, 
continuamos juntos e felizes.

Bom final de semana a todos.

Até.

sexta-feira, março 07, 2025

Antes de dormir

Ontem tive uma crise de pânico.

 

Não, não tive. 

 

Mas poderia ter tido, e estaria tudo certo. Aconteceu de, ao ir dormir, após o momento de leitura que melhora a qualidade do meu sono, ao apagar a luz, entrei em uma espiral de pensamentos – talvez até influenciado pelo livro que estou lendo, ‘Uma Breve História do Cristianismo’- que me levaram a pensar na morte.

 

Começou pela lembrança de que há exatos trinta anos era colocada uma pá de cal em um relacionamento com uma menina que durara pouco mais de sete meses, havia sido interrompido por um mês e meio e ocorrera uma tentativa de volta em pleno carnaval (?!) que não dera certo. Era segunda-feira e conversamos, e vimos que não tinha volta, não fazia sentido. 

 

Decidi, então, que meu momento seria de apenas dedicação ao trabalho, à profissão de médico que estava em seu início, começando o terceiro mês de residência. Um bom plano. Dois dias depois, em oito de março de mil novecentos e noventa e cinco, a Jacque e eu ficamos juntos pela primeira vez, e estamos até hoje, trinta anos depois. Trinta anos, que loucura.

 

Pensei nisso, em como passa o tempo, e pessoas já não estão mais entre nós, e temos saudades e as boas lembranças de quando estavam presentes. E inevitavelmente pensei que já percorri boa parte de minha vida, e que tenho menos tempo pela frente do que tenho de vida vivida, e que não sei o que virá depois. Ou mesmo se há um depois.

 

Pensei naquilo que é importante, afinal de contas, para mim. Em quem é importante, e que quero em minha vida.

 

E que tenho – sim – essa urgência de viver.


Até. 

quinta-feira, março 06, 2025

Acumuladores

Sou um acumulador.

 

Não consigo evitar esse comportamento, tenho que admitir, e sei que ele é prejudicial em muitos momentos. A minha dificuldade em me desfazer vem de longo tempo, mas pretendo começar a mudar essa realidade, e reconhecer o problema é o início da cura, eu espero. Eu acumulo, sim. Afetos.

 

E tenho dificuldade de me desfazer deles.

 

Ao longo do tempo, tive (temos) relações de diferentes tipos, amizades feitas no trabalho e baseadas apenas nesse ambiente, colegas de aula, desde a escola fundamental até o curso universitário e a pós-graduação, amigos de amigos, pais de amigos da filha, entre outras. Cada relação teve sua importância em algum momento da (minha) vida, em maior ou menor grau. E, fato natural, em algum momento elas podem mudar, no sentido de aproximação ou afastamento, ou ainda aproximação com posterior afastamento.

 

Tudo como parte da vida, afinal as pessoas mudam, seus interesses se tornam diferentes, a sintonia que tivemos pode não mais existir. Entendo isso de forma racional, obviamente, mas tenho dificuldades – muitas vezes – de aceitar isso com tranquilidade.

 

Mesmo sabendo que é o curso natural da vida, existem pessoas com as quais eu gostaria manter uma relação próxima, ou retomar uma proximidade perdida, mas que não é possível, até por ter passado o tempo e não fazer mais sentido. Sinto que às vezes eu forço, quando talvez não devesse ou não precisasse, até que percebo e me recolho, volto para o meu canto. Sim, sei que tenho que desapegar daquilo que não faz mais sentido.

 

E sempre lembro da letra de ‘Tendo a Lua’, dos Paralamas:

 

‘Eu hoje joguei tanta coisa fora

 Eu vi o meu passado passar por mim

Cartas e fotografias, gente que foi embora

 A casa fica bem melhor assim' 

 

Até.

quarta-feira, março 05, 2025

Somos Quem Podemos Ser

O que os outros pensam de mim (de nós)?

 

Durante um longo tempo de nossas vidas, nos moldamos para sermos aceitos e pertencermos a determinados grupos. Comportamento, modo de vestir, tudo com o objetivo de ser incluído, de ser parte. Comigo, ao menos, foi assim.

 

Sempre admirei, por outro lado, os – podemos dizer – outsiders, aqueles que eram eles mesmos sem máscaras, autênticos, aparentemente autoconfiantes a ponto de não se preocuparem demais em se adaptarem para serem aceitos. Que não se importavam com o que os outros estivessem pensando.

 

Nunca fui assim, porque a necessidade de fazer parte, e a preocupação com o que os outros pudessem vir a pensar de mim, sempre estiveram presentes. Foi bom, por um lado, e ruim, por outro, como tudo na vida. Cada vez menos, contudo, o que as pessoas vão pensar pesa em minhas decisões, até porque o que elas falam e pensam de mim diz mais a respeito delas do que de mim.

 

Sim, eu sei que esse é (mais) um dos assuntos recorrentes por aqui. Acontece que, à medida que penso no assunto, estimulado por leituras ou o que escuto em minhas andanças por aí, ele retorna à pauta, com maior ou menos frequência.


Somos quem podemos ser, no fim.


Até. 

terça-feira, março 04, 2025

Mais uma de Carnaval

Não sinto falta do carnaval, exceto como feriado...

 
Mas já tive, sim, o meu tempo de “folião”. O último baile (isso mesmo, baile) de carnaval que fomos, a Jacque e eu, e não contando os divertidos bailes de carnaval infantil da SOGIPA, em Porto Alegre, em que levamos a Marina junto com a turma da escola nos tempos do jardim de infância, foi há mais de vinte anos, na SAT (Sociedade de Amigos de Tramandaí), em Tramandaí, litoral do Rio Grande do Sul. Em grupo. Não um bloco, mas uma turma. E foi bem legal, ficamos no baile até as cinco horas da manhã e depois terminamos a noite comendo um xis no Pica-Pau Lanches, local que nem existe mais, assim como não existem mais os bailes de carnaval das sociedades de praia...


Ainda antes participei apenas de um bloco de carnaval nos tempos de folião assíduo. Foi o ‘Perversa’, em Imbé, no carnaval de rua na Av. Rio Grande, que hoje se chama Nilza Godoy.

 

Lá no início dos anos noventa, época em que Imbé era o centro da noite do litoral gaúcho, e a Av. Rio Grande era o centro da agitação com seus bares com música ao vivo, decidiram fazer um carnaval de rua que, na verdade, era em um terreno ao lado de um dos bares. Nós, como bloco, fomos para lá. 


No início, o pessoal ficava restrito ao terreno, enquanto carros passavam na avenida. Com o decorrer da noite, e num daqueles ‘trenzinhos’ característicos, que vai aumentando de tamanho à medida que vai passando e mais pessoas vão se juntando, começamos a atravessar a rua e a entrar em outros bares, chamando mais pessoas. E foi uma bola de neve, até que toda a rua foi invadida e carros não passavam mais. Nas noites seguintes e nos anos seguintes, a polícia antecipadamente bloqueava o espaço aos carros.


O evento aumentou em proporções com o passar dos anos, o que implicou – pelo fato de ser de rua e de livre acesso – na presença de grupos dispostos a “esculhambar” muito mais que brincar. Assaltos e brigas foram o último estágio antes de o Imbé perder o posto de centro da noite no litoral para Atlântida, que desde então tem a principal noite do litoral gaúcho. Mas, nessa última fase, já não passávamos o carnaval lá. Nesta fase, já tínhamos nos mudado para os bailes de carnaval da SAT (a mesma que fomos, o Pedro, a Zeca, Jacque e eu, há mais de vinte anos). 


Como costumo falar, sempre fui fã dos carnavais de antigamente, aqueles que não vivi. Os carnavais das marchinhas. Não essas festas de carnaval em que toca música eletrônica e – horror – funk. Sempre pensei que carnaval tem que ter música de carnaval, para o resto do ano temos as outras músicas, menos o funk, que nunca deveria ser ouvido. 

Falando em música, a música de hoje, novamente do Chico Buarque, é outra obra-prima da música popular brasileira, composta em 1966. 


Quem Te Viu, Quem Te Vê
(Chico Buarque)

Você era a mais bonita das cabrochas dessa ala
Você era a favorita onde eu era mestre-sala
Hoje a gente nem se fala, mas a festa continua
Suas noites são de gala, nosso samba ainda é na rua

Hoje o samba saiu procurando você
Quem te viu, quem te vê
Quem não a conhece não pode mais ver pra crer
Quem jamais esquece não pode reconhecer

Quando o samba começava, você era a mais brilhante
E se a gente se cansava, você só seguia adiante
Hoje a gente anda distante do calor do seu gingado
Você só dá chá dançante onde eu não sou convidado

Hoje o samba saiu procurando você
Quem te viu, quem te vê
Quem não a conhece não pode mais ver pra crer
Quem jamais esquece não pode reconhecer

O meu samba se marcava na cadência dos seus passos
O meu sono se embalava no carinho dos seus braços
Hoje de teimoso eu passo bem em frente ao seu portão
Pra lembrar que sobra espaço no barraco e no cordão

Hoje o samba saiu procurando você
Quem te viu, quem te vê
Quem não a conhece não pode mais ver pra crer
Quem jamais esquece não pode reconhecer

Todo ano eu lhe fazia uma cabrocha de alta classe
De dourado eu lhe vestia pra que o povo admirasse
Eu não sei bem com certeza por que foi que um belo dia
Quem brincava de princesa acostumou na fantasia

Hoje o samba saiu procurando você
Quem te viu, quem te vê
Quem não a conhece não pode mais ver pra crer
Quem jamais esquece não pode reconhecer

Hoje eu vou sambar na pista, você vai de galeria
Quero que você assista na mais fina companhia
Se você sentir saudade, por favor não dê na vista
Bate palmas com vontade, faz de conta que é turista

Hoje o samba saiu procurando você
Quem te viu, quem te vê
Quem não a conhece não pode mais ver pra crer
Quem jamais esquece não pode reconhecer 

 

Até.