Não sinto falta do carnaval, exceto como feriado...
Mas já tive, sim, o meu tempo de “folião”. O último baile (isso mesmo, baile) de carnaval que fomos, a Jacque e eu, e não contando os divertidos bailes de carnaval infantil da SOGIPA, em Porto Alegre, em que levamos a Marina junto com a turma da escola nos tempos do jardim de infância, foi há mais de vinte anos, na SAT (Sociedade de Amigos de Tramandaí), em Tramandaí, litoral do Rio Grande do Sul. Em grupo. Não um bloco, mas uma turma. E foi bem legal, ficamos no baile até as cinco horas da manhã e depois terminamos a noite comendo um xis no Pica-Pau Lanches, local que nem existe mais, assim como não existem mais os bailes de carnaval das sociedades de praia...
Ainda antes participei apenas de um bloco de carnaval nos tempos de folião assíduo. Foi o ‘Perversa’, em Imbé, no carnaval de rua na Av. Rio Grande, que hoje se chama Nilza Godoy.
Lá no início dos anos noventa, época em que Imbé era o centro da noite do litoral gaúcho, e a Av. Rio Grande era o centro da agitação com seus bares com música ao vivo, decidiram fazer um carnaval de rua que, na verdade, era em um terreno ao lado de um dos bares. Nós, como bloco, fomos para lá.
No início, o pessoal ficava restrito ao terreno, enquanto carros passavam na avenida. Com o decorrer da noite, e num daqueles ‘trenzinhos’ característicos, que vai aumentando de tamanho à medida que vai passando e mais pessoas vão se juntando, começamos a atravessar a rua e a entrar em outros bares, chamando mais pessoas. E foi uma bola de neve, até que toda a rua foi invadida e carros não passavam mais. Nas noites seguintes e nos anos seguintes, a polícia antecipadamente bloqueava o espaço aos carros.
O evento aumentou em proporções com o passar dos anos, o que implicou – pelo fato de ser de rua e de livre acesso – na presença de grupos dispostos a “esculhambar” muito mais que brincar. Assaltos e brigas foram o último estágio antes de o Imbé perder o posto de centro da noite no litoral para Atlântida, que desde então tem a principal noite do litoral gaúcho. Mas, nessa última fase, já não passávamos o carnaval lá. Nesta fase, já tínhamos nos mudado para os bailes de carnaval da SAT (a mesma que fomos, o Pedro, a Zeca, Jacque e eu, há mais de vinte anos).
Como costumo falar, sempre fui fã dos carnavais de antigamente, aqueles que não vivi. Os carnavais das marchinhas. Não essas festas de carnaval em que toca música eletrônica e – horror – funk. Sempre pensei que carnaval tem que ter música de carnaval, para o resto do ano temos as outras músicas, menos o funk, que nunca deveria ser ouvido.
Falando em música, a música de hoje, novamente do Chico Buarque, é outra obra-prima da música popular brasileira, composta em 1966.
Quem Te Viu, Quem Te Vê
(Chico Buarque)
Você era a mais bonita das cabrochas dessa ala
Você era a favorita onde eu era mestre-sala
Hoje a gente nem se fala, mas a festa continua
Suas noites são de gala, nosso samba ainda é na rua
Hoje o samba saiu procurando você
Quem te viu, quem te vê
Quem não a conhece não pode mais ver pra crer
Quem jamais esquece não pode reconhecer
Quando o samba começava, você era a mais brilhante
E se a gente se cansava, você só seguia adiante
Hoje a gente anda distante do calor do seu gingado
Você só dá chá dançante onde eu não sou convidado
Hoje o samba saiu procurando você
Quem te viu, quem te vê
Quem não a conhece não pode mais ver pra crer
Quem jamais esquece não pode reconhecer
O meu samba se marcava na cadência dos seus passos
O meu sono se embalava no carinho dos seus braços
Hoje de teimoso eu passo bem em frente ao seu portão
Pra lembrar que sobra espaço no barraco e no cordão
Hoje o samba saiu procurando você
Quem te viu, quem te vê
Quem não a conhece não pode mais ver pra crer
Quem jamais esquece não pode reconhecer
Todo ano eu lhe fazia uma cabrocha de alta classe
De dourado eu lhe vestia pra que o povo admirasse
Eu não sei bem com certeza por que foi que um belo dia
Quem brincava de princesa acostumou na fantasia
Hoje o samba saiu procurando você
Quem te viu, quem te vê
Quem não a conhece não pode mais ver pra crer
Quem jamais esquece não pode reconhecer
Hoje eu vou sambar na pista, você vai de galeria
Quero que você assista na mais fina companhia
Se você sentir saudade, por favor não dê na vista
Bate palmas com vontade, faz de conta que é turista
Hoje o samba saiu procurando você
Quem te viu, quem te vê
Quem não a conhece não pode mais ver pra crer
Quem jamais esquece não pode reconhecer
Até.